segunda-feira, 26 de agosto de 2013

TEXTOS ADMINISTATIVOS

        1.1 A CARTA
                1.1.1 PESSOAL
                1.1.2 OFICIAL
                1.1.3 DE APRESENTAÇÃO
                1.1.4 DE RECLAMAÇÃO
       
        1.3 O INQUÉRITO
        1.4 A ACTA
        1.5 A DISSERTAÇÃO

                2.1.1 O RESUMO
                2.1.2 A SÍNTESE
                2.1.3 A CONTRACÇÃO
        3.1 GUIÃO DE ENTREVISTA
        3.2 GUIÃO DE DEBATE
        4.1 PARTICÍPIOS DUPLOS




1.      MATERIAIS DE APOIO À ESCRITA
1.1  A CARTA
  
A carta é um texto cuja organização e linguagem são condicionadas pela intenção de quem comunica (remetente) com alguém que se encontra ausente (destinatário), para dar notícias, cumprimentar, fazer pedidos, reclamar, apresentar-se...
Há diferentes TIPOS DE CARTAS:
  • pessoal
  • oficial
    • comercial
    • profissional ou técnica ( reclamação, candidatura a emprego, administrativa, etc)
  • literária
Neste trabalho debruçar-nos-emos sobre as cartas pessoais e oficiais.
As primeiras destinam-se a familiares e amigos e têm como qualidades principais:
  • a correcção gramatical e a delicadeza, que a familiaridade e a intimidade não dispensam;
  • a ordem e a boa apresentação, isto é, sem rasuras nem emendas, em papel normalizado, sendo de preferência manuscritas;
  • a frase deve ser simples, eliminando as dificuldades de construção e indo por partes, ao fazer corresponder a uma frase poucas ideias.
As segundas são frequentes no mundo dos negócios, onde constituem o documento escrito mais importante. São caracterizadas pelo sentimento do útil e não só devem permitir uma comunicação eficaz como também devem deixar uma impressão favorável na pessoa que as recebe. O seu objectivo principal é obter uma reacção positiva. Para isso contribuem qualidades como:
  • a clareza - procurada através de frases curtas, da ordem directa das palavras na frase, de um vocabulário cuidado, e, ainda, através da eliminação dos gerúndios, das palavras rebuscadas e das expressões gastas;
  • a concisão - obtida através da revisão do escrito, da eliminação de expressões inúteis, ideias repetidas e pormenores sem interesse, indo directamente ao assunto, mas evitando a escrita telegráfica e a frase vaga;
  • a precisão - conseguida pelo uso do termo próprio para cada coisa, tendo o dicionário sempre ao lado, pelo abandono das orações subordinadas e pela apresentação de explicações;
  • o tom - que deve ser pessoal, humano, cortês, ponderado e positivo, sem cair na excessiva familiaridade, mas evitando um tom cerimonioso, frio e impessoal, a substituir por tonalidades espontâneas e afáveis;
  • a correcção, a todos os níveis - ortográfica, sintáctica, semântica, de pontuação, de acentuação, de divisão silábica na translineação, de construção dos parágrafos ou das margens - pois todo o erro acarreta uma penalização por parte do leitor.

ESTRUTURA DA CARTA
  • o remetente, no canto superior esquerdo (facultativo nas cartas pessoais);
  • o local e a data - colocam-se ao alto, à direita ou à esquerda nas cartas comerciais e à esquerda nas familiares. Nesta também pode aparecer no fim, à esquerda da assinatura;
  • o destinatário (fórmula de tratamento que introduz a comunicação, que varia conforme a relação que se tem com o destinatário). Escreve-se à esquerda, alinhado com a primeira palavra da carta;
  • o corpo ou tratamento do assunto - é a parte mais extensa, constituída, por sua vez, por três partes:
    • uma pequena introdução para saudar ou apresentar brevemente o objectivo da carta;
    • o desenvolvimento do assunto - para tratar com algum pormenor o assunto principal, introduzir outros assuntos e apresentar argumentos, se necessário;
    • a conclusão - para encerrar o assunto e fazer as despedidas;

  • a fórmula que termina a comunicação (expressão de amizade, simpatia ou, apenas, de delicadeza formal) , colocada no canto inferior direito;
  • a assinatura (manuscrita), colocada no canto inferior direito.


 
 

FÓRMULAS DE USO CORRENTE

1.1.1 CARTA PESSOAL
  • Para iniciar:
    • (Meu) querido (amigo, pai, filho,...)
    • (Meu) caro ( seguido ou não do nome)
    • Caríssimo (seguido ou não do nome)
    • Prezado amigo, etc
  • Para terminar:
    • Com dedicação do amigo
    • Teu (seu) amigo dedicado
    • Um abraço (do amigo)
    • Um beijo


1.1.2 CARTA FORMAL (OFICIAL )
  • Para iniciar:
    • Exmo Senhor Director (Presidente, etc)
    • Exmo(s) Senhor(es)
    • Caro Senhor
    • Senhor X

  • Para terminar:
    • Respeitosamente
    • Respeitosos cumprimentos de
    • Com os melhores cumprimentos
    • De V. Exª, atentamente (na carta comercial)
    • Atenciosamente (na carta comercial)
    • Subscrevemo-nos atenciosamente (na carta comercial).
   Na elaboração de uma carta, devem respeitar-se os seguintes PROCEDIMENTOS:
  • utilizar um registo (familiar, corrente, cuidado...) adequado ao destinatário e à situação
    • formas de tratamento
    • vocabulário
    • construção frásica;
  • articular parágrafos e frases, recorrendo a palavras ou expressões que indiquem o tempo, o espaço, o modo, a causa, a consequência (advérbios, conjunções, locuções adverbiais ou conjuncionais);
  • respeitar a estrutura convencionada, nos casos das cartas formais (de pedido, de reclamação, de apresentação...).
  
Sempre que for necessário passar a limpo, é importante ter em conta:
  • a pontuação;
  • a ortografia;
  • a apresentação gráfica (especialmente cuidada nas cartas formais).




A CARTA PESSOAL
EXEMPLO
Exmo Senhor Ferreira de Castro
Muito obrigado pelo artigo que escreveu a meu respeito no último número de "A Hora" - que tenho lido sempre com grande interesse, como leio tudo que é apaixonado e sincero. 
São raras efectivamente as pessoas que em Portugal estimam os meus livros, mas essas bastam-me, quando compreendem não o que vale a minha obra necessariamente imperfeita, mas o esforço que faço para arrancar alguns farrapos ao limbo...
 
Creia-me sempre
Camarada muito amigo
Raul Brandão
Nespereira 
Guimarães
 
28 de Março 1922

 
EXERCÍCIOS
1- Imagine que se encontra a passar férias num outro país e escreva uma carta a um seu familiar.
2- Chegou a hora de mostrar o quão romântico é! Redija uma carta de amor. 
 
 
 
 
 
 




CARTA OFICIAL
 
Existem dois sistemas  a que a elaboração de uma carta oficial pode obedecer: sistema tradicional e sistema normalizado.
Qualquer dos sistemas de elaboração de cartas contém os mesmos elementos, mas apresentados de forma diferente.
  
Vejamos os seguintes exemplos:

SISTEMA TRADICIONAL

 
 
Morais & Cª
Bazar Infantil
Rua das Hortênsias, Loja 4- B
1000 Lisboa
                                                                                              Manuel Pimenta
                                                                                              Rua dos Clérigos, 20
                                                                                              4000 Porto
                                                                                              Lisboa, 1 de Abril de 1998
Exmo Senhor,
Tomamos a liberdade de apresentar a V. Sª o Exmo Sr. Fernando Monteiro, n/ cliente e muito prezado amigo, que nessa cidade se demorará algum tempo, levado pela necessidade de se submeter a um tratamento e ao mesmo tempo resolver negócios.
Vimos, por isso, rogar-lhe que tenha a bondade de lhe abrir um crédito até à quantia de 100.000$oo, a receber em parcelas ou numa só entrega, e da qual V, Sª se reembolsará sacando à vista contra a n/ firma pelas importâncias que o n/ apresentado for levantando.
Com os n/ agradecimentos e com toda a estima
De V. Sª
Muito atenciosamente

Morais & Cª
  
 
SISTEMA NORMALIZADO
Morais & Cª
Bazar Infantil
Rua das Hortênsias, Loja 4 – B
1000 Lisboa

                                                                           Manuel Pimenta
                                                                           Rua dos Clérigos, 20
                                                                           4000 Porto

N. Refª: 1234                                           V. Refª               Data: 1 de Abril de 1998 
 
 
 
ASSUNTO: Abertura de crédito

Exmo Senhor,
Tomamos a liberdade...
Com os n/ agradecimentos e com toda a estima
De V. Sª
Muito atenciosamente
Morais & Cª
  
 
EXERCÍCIOS
1- Identifique, no primeiro exemplo, as partes da carta. 
2- Responda à carta transcrita, utilizando o sistema normalizado.


 
 
 
 
 
1.1.3 CARTA DE APRESENTAÇÃO
Uma carta de apresentação é um texto em que o destinatário pretende apresentar-se, nomeadamente para a candidatura a um emprego.
Segue a estrutura fornecida para as cartas em geral:
  • remetente, no canto superior esquerdo;
  • local e data, no canto superior direito;
  • forma de tratamento adequada ao destinatário;
  • corpo:
    • introdução- apresentação do objectivo da carta;
    • desenvolvimento- inclusão de dados pessoais (identificação, habilitações académicas, situação profissional);
    • conclusão - referindo pessoas ou instituições que podem confirmar as informações prestadas; solicitando um acolhimento favorável;
  • fórmula final adequada ;
  • assinatura.
EXEMPLO
João da Silva 
Rua da Prata, 12
 
1100 Lisboa
                                                                                  Lisboa, 2 de Janeiro de 1998
Exmos Senhores,
Tendo tomado conhecimento do vosso anúncio no jornal X, de 1 do corrente, para o cargo de Y na vossa empresa, venho por este meio apresentar a minha candidatura.
Tenho 27 anos, sou solteiro e tenho o serviço militar cumprido.
Possuo, como habilitações literárias, o 12º ano e, além disso, frequentei um curso de informática, possuindo conhecimentos de MS- Dos, WINDOWS, processamento de texto, folha de cálculo e base de dados.
Como experiência profissional, trabalho há quatro anos na empresa Z, onde sou funcionário administrativo, mas desejaria trabalhar na área de informática.
Tenho boa capacidade de relacionamento e encontro-me disponível para iniciar novas funções a curto prazo.
Antecipadamente, agradeço a atenção que dispensarem à minha candidatura. Aguardando resposta favorável, subscrevo-me com consideração.
De V. Exª
Atentamente
João da Silva

EXERCÍCIO
1- Tendo em atenção a carta apresentada como modelo, responda a um anúncio que seleccionará de um jornal à sua escolha.


 
 
 
  
1.1.4 CARTA DE RECLAMAÇÃO
 
 
 
O acto de reclamar  reveste duas facetas: a de um direito e a de um dever. Reclama-se porque um direito nos foi retirado, mas reclama-se também porque a disciplina, a dignidade, a justiça e a moral da vida em sociedade a isso nos impelem. A reclamação é, assim, uma forma de preservação dos direitos individuais e. ao mesmo tempo, um acto de consciência colectiva. Por outro lado, o acto de reclamar pressupõe, no fundo, um juízo de valores.
 
Poderá ser directa ou indirecta, se feita pelo próprio ou por uma terceira pessoa, e, ainda, oral ou escrita. É especialmente desta última que nos vamos ocupar.
 
 
 
Antes de reclamar, convém verificar se há motivo (legal, profissional ou moral), se a reclamação é viável e oportuna, se ela não prejudica terceiros, se vale a pena reclamar - em caso de dúvidas consultemos pessoas esclarecidas e informemo-nos sobre a questão.
Para realizar uma reclamação, é necessário recolher os elementos necessários: informações, documentos, testemunhos... reunindo todos os elementos que possam constituir prova, com serenidade e sem precipitações, tendo presente que é melhor esperar do que fazer uma reclamação sem base ou mal feita.
Toda a reclamação deve assentar na ordem, no método e na correcção. Deste modo devemos prestar atenção especial:
  • à sequência dos dados a introduzir, de modo a que as ilações brotem deles com realce e brilho;
  • à linguagem que deve ser breve e concisa, dizendo o máximo no menor número de palavras;
  • à escolha de uma forma de reclamação adequada à importância e à natureza de cada problema.
Uma reclamação deve ser dirigida à entidade à qual compete julgar ou encaminhá-la convenientemente, de outro modo, é perda de tempo, desmoraliza o reclamante e beneficia terceiras pessoas, eventualmente interessadas na questão. 
 
PLANO DA CARTA DE RECLAMAÇÃO
Uma reclamação apresentará, pelo menos, os pontos seguintes:
  • saudação inicial;
  • exposição do assunto ou breve história da questão;
  • motivo, quer dizer, fundamentação dos direitos do reclamante;
  • conclusão, isto é, reparação ou compensação;
  • documentação com capacidade ou valor de prova;
  • fórmula de despedida.

ERROS A EVITAR
Para além de saber elaborar uma reclamação, é necessário evitar deficiências que prejudicam o objectivo em vista. De entre elas destacam-se as seguintes:
  • desconhecimento da lei ou das normas, o mesmo é dizer, dos seus direitos - as pessoas ficam-se frequentemente por uma ideia geral e vaga das mesmas, o que debilita a base da reclamação;
  • desconhecimento dos factos - informação insuficiente, simples aparência dos factos, numa palavra, ignorância, é o que explica o insucesso de muitas reclamações;
  • precipitação e nervosismo - a afectividade exacerbada limita a razão, ou seja, o espírito não tem serenidade suficiente para vencer as reacções espontâneas, irreflectidas e ilógicas. Por vezes, o reclamante arrepende-se "por não ter dito o suficiente, por ter dito mais do que devia dizer, por se ter excedido na reacção, por seguir orientação errada, por revelar falta de tacto, etc" . É necessário, portanto, ponderar o momento e as consequências da reclamação;
  • falta de inteligência - grande parte das reclamações é ilógica, absurda e estúpida porque provém daqueles que reclamam por malícia, isto é, sem razão moral nem legal, e daqueles que reclamam por reclamar, quer dizer, sem saberem o que querem;
  • incorrecção - a justeza de certas reclamações, por vezes, perde-se perante o modo indelicado, grosseiro ou até ofensivo que apresentam. A delicadeza será de usar em todas as emergências, nomeadamente no caso das reclamações.
EXEMPLO
Modelo de uma reclamação bem feita: 
 
 
Exmo Sr. Administrador das Indústrias Reunidas S.A.R.L.
António Miguel dos Santos, representante em Portugal da Société Industrielle papétière et tipographique, de Bruxelas (Bélgica), com escritório na Rua de Amadis de Gaula, nº 25, em Lisboa, e telefone 556688, toma a liberdade de expor a V. Exª o seguinte:
1º- Em 12 de Abril de 1953 a sociedade "Indústrias Reunidas", de que V. EXª é muito digno Administrador, abriu concurso para os seguintes fornecimentos:
  • 1000 toneladas de papel tipo A;
  • 5000 toneladas de papel tipo Z;
  • 3000 toneladas de papel tipo X;
  • 2 máquinas "linotype".
2º- A firma indicada concorreu, dentro do prazo fixado, apresentando as amostras e documentação exigida e efectuando o depósito de garantia, previsto no respectivo caderno de encargos, como prova pelos documentos juntos (Docs. números 1 e 2).
3º- Em 30 de Maio do referido ano de 1953, foram as propostas abertas na presença dos interessados, conforme consta de auto lavrado na referida data, da qual o signatário possui cópia.
4º- Em 12 de Junho do mesmo ano, foram-nos solicitados alguns informes complementares, em vossa carta nº 7.42 /53. Proc. C. P. - I, de 12 de Junho de 1953, à qual prontamente respondemos em nossa carta nº 625 / 53, de 16 do mesmo mês de Junho (Docs. números 3 e 4).
5º- Em 20 de Julho, foi o signatário informado de que o assunto estava em estudo nessa Administração e que ficaria resolvido dentro de 30 dias.
6º- Como, porém, decorridos dois meses sobre essa data, ou seja, em fins de Outubro, nada nos tivesse sido comunicado, e como o protelamento da questão nos causasse sérios prejuízos, porquanto estava imobilizado um depósito de garantia de uma centena de contos, e nos encontrávamos impossibilitados de concorrer a outros fornecimentos, enquanto essa Sociedade não resolvesse em definitivo o problema, dirigimo-nos, por carta, à vossa Administração, em 27 de Outubro de 1953 (Doc. número 5).
7º- Só cerca de quatro meses depois, isto é, em 23 de Fevereiro de 1954, nos foi comunicado, em vossa carta nº 821 /54, Proc. C. P. I., que, por motivos imprevisíveis de ordem interna, só então o assunto iria ser considerado com a maior brevidade (Doc. número 6).
8º- Acontece, porém, que, posteriormente à referida data, e sem que o concurso haja sido anulado, teve conhecimento o signatário de que a firma desta cidade, "Armazéns de Papéis", a qual nem sequer concorrera ao atrás referido concurso, tem estado a fornecer os papéis dos tipos postos a concurso em 1953, por preços manifestamente superiores aos oferecidos na proposta da Firma pelo signatário representada.
9º- Além disso, contra o que fixava a cláusula 27, do vosso caderno de encargos, não foi o signatário, até agora, avisado do resultado do concurso, nem tão-pouco convidado a levantar o depósito de garantia, imobilizado, com grave prejuízo para os seus negócios, há mais de dois anos.
Em face do exposto, e porque se afigura, ao signatário, ser-lhe devida a necessária reparação, peço a V. Exª se digne:
1º- Adjudicar, ao signatário, o fornecimento  a que se alude, visto a proposta apresentada pela Firma, de que é representante, ter sido a mais vantajosa ou
2º- Informar o signatário sobre:
  • Qual o resultado do concurso a que se faz referência;
  • Qual o motivo por que, tendo o signatário cumprido, integralmente, as cláusulas respectivas, faltou a vossa Sociedade ao cumprimento das que lhe cabia cumprir;
  • Qual o motivo por que, tendo o signatário oferecido as melhores condições, foi preterido por outra firma, com grave prejuízo económico para a vossa Sociedade e manifesta afronta à Justiça.
Lisboa, 24 de Outubro de 1955
                                                                                    António Miguel dos Santos 
 
Anexos: Seis documentos. 
 
 
 
 
EXERCÍCIOS
1- A reclamação que vai ler está mal feita. Indique as suas deficiências.
Exmo Sr.,
António Manuel dos Santos, tendo, em tempos, apresentado a um concurso os seus produtos e não tendo sido dado fundamento ao assunto, e como isto é uma irregularidade, e não há o direito de fazer tal coisa, vem protestar contra semelhante abuso e pedir providências. Já diversas vezes tem reclamado verbalmente, mas sem resultado, fazendo-o agora por escrito. Embora outros se calem, o signatário vem pedir justiça, em nome dos bons princípios da moral, que V. Exª deve zelar.
Lisboa, 24 de Outubro de 1955
António Miguel dos Santos

2- Elabore uma reclamação, recordando um acontecimento em que tenha sentido vontade de reclamar, não a tendo realizado na altura. 



 
 
 
1.2 O CURRICULUM VITAE
O curriculum vitae, do latim, significa "percurso de vida" e começa a ser referido também pela expressão currículo pessoal ou simplesmente currículo. É um documento que nos permite comunicar com os outros numa situação concreta do mundo do trabalho. Apresenta várias facetas do indivíduo, e o seu objectivo máximo é despertar o interesse pela pessoa, criar o desejo de falar com ela, querer saber mais coisas a seu respeito. Não é, portanto, um documento estático, pois veicula uma imagem forte da personalidade, capaz de agir sobre o leitor-destinatário e levá-lo a querer procurar mais informação sobre o candidato ou interveniente. É, assim, um instrumento de motivação e de sedução.
Na procura de emprego, é uma espécie de carta de apresentação, pessoal, que permite ao empregador verificar se o candidato possui ou não os requisitos pretendidos. O candidato deve valorizar as ocupações profissionais anteriores que sejam próximas daquelas para as quais se procura uma pessoa. 
 
ESTILO
Na elaboração de um currículo pessoal pode utilizar-se o plural majestático (nós fizemos), a primeira pessoa do singular (eu fiz) ou a terceira pessoa do singular (ele fez). Pode ainda ser feito de forma descritiva, sob a forma de fichas. 
 
PARTES DE UM CURRÍCULO
Um currículo apresenta  as partes essenciais seguintes:
  • dados pessoais- nome, estado civil, residência, telefone, lugar e data de nascimento, nacionalidade, número de filhos e suas idades;
  • formação académica- básica, média e superior, referindo-se os diplomas e as respectivas classificações, estabelecimentos de ensino onde foram obtidos, os locais e as datas;
  • formação profissional- inicial e complementar, ao longo da actividade profissional;
  • experiência profissional - locais de trabalho e respectivas empresas, indicando datas e referindo trabalhos ou projectos de iniciativa própria ou em que tenha colaborado;
  • outros elementos de interesse- se possui carta de condução, se aceita deslocar-se para o estrangeiro, se tem facilidade de comunicação,...
  • referências
Ao redigir o C.V. é sempre conveniente adaptar ao destinatário as informações que se fornecem.
Na resposta a um anúncio de emprego, escreve-se uma carta formal e objectiva do seguinte teor a que se amexa o C.V.: 
 
Remetente
                                                                                  Localidade e data
Exmos Senhores,
Em resposta ao vosso anúncio publicado no jornal--, do dia --, venho por este meio candidatar-me ao lugar de --, para o qual creio preencher as condições requeridas. 
Junto envio o meu "curriculum vitae", conforme o anúncio solicita.
 
Manifestando a minha disponibilidade para uma futura entrevista, sou
De V. Ex.as
Atentamente
(assinatura)
  
 
EXEMPLO
I- Identificação
Nome: José António Rodrigues Castro
Data de nascimento: 1-10-70
Naturalidade: S. Cosme, Gondomar
Filiação: Manuel Ferreira Castro e Adozinda Martins Rodrigues
Estado civil: solteiro
Nº do B.I.: 3425418
Morada: Rua dos Belos Ares, 15 S. Cosme, 4420 Gondomar, Telefone: 02- 4831927

II- Formação académica
Licenciatura em Engenharia Civil, concluída em Junho de 1994, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com a classificação de 19 (dezanove) valores

III- Formação profissional

Estágio de um ano, organizado pela empresa Ramos & Lemos, realizado em 1995
 
Curso de formação na área de exploração de minas, com a duração de três meses, realizado no ano de 1996
Curso de Inglês, nível Avançado, no Instituto de Línguas de Gondomar, concluído em 1996

IV- Experiência profissional
De Agosto de 1994 a Dezembro de 1996 - Responsável pela elaboração de projectos na "Obrafeita" 
Desde Janeiro de 1997- professor assistente na Faculdade de Engenharia do Porto

V- Outros elementos de interesse
Com carta de condução
Facilidade de comunicação e relacionamento com os colegas.

VI- Referências
Dr. Mário Cruz Machado, presidente da "Obrafeita" 
 
EXERCÍCIOS
1- Redija o seu próprio currículo.

1.3 O INQUÉRITO
Um inquérito é um estudo baseado nas respostas que um determinado número de pessoas dá a um questionário sobre um tema.

OBJECTIVOS
Os objectivos de um inquérito podem reduzir-se a um pequeno número:
  • estimar grandezas absolutas - por exemplo, a quantidade de pessoas que lê determinado jornal;
  • estimar grandezas relativas - por exemplo, a distribuição dos leitores de jornais diários por cada um deles;
  • descrever uma população ou subpopulação - determinar as características dos leitores compradores de determinada marca de carros;
  • verificar hipóteses - sob a forma de relações entre duas ou mais variáveis, por exemplo, entre a frequência de determinado hábito e  a idade, como no caso concreto da frequência dos campos de futebol.
COMO SE FAZ UM INQUÉRITO
Para preparar e realizar um inquérito devemos seguir estes passos:
  • escolher o tema sobre o qual se vai fazer o inquérito. Por exemplo: Hábitos e preferências de leitura dos jovens dos 12 aos 15 anos;
  • elaborar um questionário;
  • decidir qual vai ser a amostragem, quer dizer, o número de pessoas a interrogar. Por exemplo: 50 jovens;
  • fazer as perguntas aos inquiridos. As perguntas devem fazer-se a cada pessoa individualmente e devem ser sempre as mesmas. Por isso é preciso escrevê-las;
  • registar as respostas de cada inquirido;
  • organizar os dados em tabelas ou gráficos.
ESTILO
O vocabulário deve ser simples, o que nem sempre é fácil de conseguir, pois o risco é o redactor tender para os extremos: ser demasiado culto ou demasiado "popular". Termos quantitativamente vagos, como "muitos", "bastantes", "frequentemente", são de evitar, pois cada inquirido atribuir-lhes-á um significado diferente, devendo ser substituídos por quantidades definidas. A clareza é a grande preocupação ao elaborarmos um questionário e deve ser suficiente para que a sua compreensão dispense explicações, que nunca devem ser dadas. 
 
TIPOS DE QUESTÕES
Quanto ao conteúdo distinguimos duas grandes categorias:
  • aquelas que se debruçam sobre factos - cuja resposta é objectiva e verificável de outra forma, por exemplo: Que programa televisivo viu ontem?
  • aquelas que se debruçam sobre opiniões, atitudes, preferências, etc, isto é, questões subjectivas, como por exemplo: Pensa que este jornal é objectivo?
Quanto à sua forma, também as questões se podem dividir em dois grupos:
  • as questões abertas - às quais a pessoa responde como quer, utilizando o seu vocabulário próprio e fazendo os comentários que entender pertinentes;
  • as questões fechadas - onde, depois de colocada a questão, o inquirido deve escolher uma resposta, de um conjunto fechado de respostas fornecidas pelo inquiridor.
Quando a resposta é fechada, convém sempre prever a introdução de duas respostas "não sei",  "outras respostas".
Do ponto de vista da análise dos resultados, as questões fechadas são, a priori, as mais cómodas. 
 
EXEMPLO
Hábitos de leitura
1- Gostas de ler?
Muito       Mais ou menos     Pouco    Nada
2- Quantos livros tens, sem contar com os livros escolares?
Nenhum     Menos de dez     De dez a vinte    Mais de vinte
3- Que tipo de livros preferes?
Aventuras   Banda desenhada   Ficção científica   Policiais    Outros 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS DE UM INQUÉRITO
  • redige uma informação breve indicando o tema do inquérito, o nº de pessoas inquiridas,...
  • de acordo com os quadros ou gráficos que fizeste, explica os resultados. Podes usar expressões como:

 
    • De um total de -- inquiridos, só --- afirmam que --
    • Sobre as preferências de leitura, há que destacar que --
EXERCÍCIOS 
 
 
1- Escolhe 3 colegas e, com eles, procura um tema do interesse de todos (por exemplo: o tabaco, a música, o desporto,,...) sobre o qual elaborarão um inquérito a colocar à turma.
 (índice) 



1.4 A ACTA
A acta é o relato informativo de uma reunião. 
Dela devem constar todos os factos importantes que ocorreram nessa reunião.
 
Logo no início de uma sessão de trabalho se deve designar o secretário, isto é, a pessoa encarregada de fazer a acta, pois deve atentamente tomar notas minuciosas sobre:
  • as fases da reunião;
  • as intervenções dos participantes;
  • as conclusões a que se chegou;
  • as decisões tomadas.
PLANO DA ACTA 
  • Introdução
    • fórmula de abertura

data e hora exactas; 
local;
 
natureza da assembleia, instituição a que ela pertence, identidade de quem preside e dos participantes e indicação dos faltosos;
 
indicação da ordem de trabalhos (objectivo) da reunião.
  • Desenvolvimento
    • registo do essencial das principais intervenções dos participantes;
    • transcrição de declarações (de intenção ou de voto), quando as houver;
    • síntese de conclusões e decisões tomadas.
  • Conclusão
    • fórmula de encerramento, que pode ser sempre a mesma, seja qual for a natureza da assembleia: " E nada mais havendo a tratar, deu-se por encerrada a sessão, da qual se lavrou a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente e por mim, que a secretariei".
  
Na elaboração de uma acta, respeitar-se-ão os seguintes PROCEDIMENTOS:
 
 
  • Construir o texto de acordo com a ordem dos assuntos tratados na reunião;
  • relatar os acontecimentos ou ideias essenciais;
  • utilizar uma linguagem clara e objectiva;
  • articular parágrafos e frases, recorrendo a palavras ou expressões que indiquem o tempo, o espaço, o modo, a causa, a consequência (advérbios, conjunções, locuções adverbiais ou conjuncionais);
  • escrever os números por extenso;
  • trancar (preencher com um traço) todos os espaços em branco;
  • em caso de engano, não apagar nem rasurar o erro; escrever a palavra "digo" e, em seguida, registar a forma correcta.
EXEMPLO
------------------------ ACTA NÚMERO TRINTA E TRÊS ------------------------ 
Aos vinte e um dias do mês de Setembro, do ano de mil novecentos e oitenta e nove, pelas vinte e uma horas, com a presença dos elementos da direcção da Associação ------, constituída pelos senhores -----, teve lugar a reunião periódica da mesma direcção, presidida pelo senhor vice-presidente ----, com a seguinte Ordem de Trabalhos:---------------------------------
 
Ponto um: Preenchimento dos documentos de Caixa; -------------------------------------------------
 
Ponto dois: A Casa de Chá e a Churrascaria.---------------------------------------------------------------
 
Aberta a sessão, foi lida a acta da reunião anterior, que depois de sofrer uma ligeira correcção gramatical, num período, foi aprovada pelo Conselho e, de seguida, assinada, em prova da conformidade.-------------------------------------------------------------------------------------------------
 
Na ausência do senhor presidente, assumiu a direcção da reunião o senhor vice-presidente ----, que, depois de saudar os presentes, declarou ser de interesse enviar a todos os elementos da direcção fotocópia da acta aprovada, explicando que seria um estímulo e um convite para estarem presentes em reuniões futuras aqueles que, por mero comodismo, não comparecem.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
Pediu de seguida a palavra o senhor tesoureiro,---, para manifestar alguns reparos em relação à forma como estão a ser emitidos vários documentos de "caixa" que, a seu ver, deveriam ser escriturados de forma mais regulamentar, tendo-se acordado providenciar no sentido de se operarem as necessárias correcções que procuram acautelar a Associação de qualquer incómodo, em termos fiscais.-------------------------------------------------------------------------
 
Foi depois discutida a situação relacionada com o preenchimento dos lugares destinados à exploração da Casa de Chá e da Churrascaria, não havendo, de momento, qualquer outra perspectiva, quanto à sua ocupação, apesar de terem já surgido pretendentes, um dos quais quase chegou a comprometer-se, tendo-se gorado a sua aceitação dois dias após o contacto inicial, por factos que podem considerar-se estranhos e que a curto prazo a Associação vai tentar esclarecer.--------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
Nada mais havendo a tratar, deu-se por encerrada a reunião, da qual se lavrou a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada pelo presidente da reunião e por mim, que a secretariei.--------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
O VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO:---------------------------------------------------------------------
 
O SECRETÁRIO:-------------------------------------------------------------------------------------------------------
 
 
EXERCÍCIOS 
 
 
1- Redija a acta de reunião da Direcção do "Clube os Melros", na qual foram realizados os actos que se seguem:
  • leitura da acta da sessão anterior;
  • correspondência recebida e enviada;
  • andamento das obras da nova sede;
  • problemas na secção desportiva;
  • assuntos gerais.



1.5 A DISSERTAÇÃO
A dissertação é um estudo minucioso, uma tese ou ensaio erudito. Deriva do termo latino que significa "discussão" e emprega-se para qualquer exposição séria, tanto escrita como oral. No essencial, é uma demonstração de raciocínio com vista a informar/ convencer o leitor ou o ouvinte da validade dos argumentos. Como texto bem construído, exige o domínio de uma técnica. 
 
ESTRUTURA
Deverá comportar: 
 
  • uma introdução- na qual são apresentadas a ideia geral como ponto de partida, relevando a importância do tema e as linhas-mestras ou as grandes linhas do plano ou itinerário a seguir;
  • um desenvolvimento, onde se explicarão articuladamente as linhas indicadas na introdução, recorrendo, sempre que possível, a exemplos concretos. Poderá, se for necessário, haver uma contra-argumentação. É imprescindível a tomada de uma posição pessoal perante o tema em análise;
  • uma conclusão- que, breve e rigorosa, sintetiza o essencial do raciocínio desenvolvido anteriormente e aponta opiniões e/ ou soluções pessoais.
PASSOS A SEGUIR
  • compreensão do tema;
  • procura de ideias. Devem registar-se numa folha de papel as ideias que vão surgindo. É a fase do inventário das ideias, sem preocupação de as ordenar;
  • elaboração de um plano que constará das três partes fundamentais indicadas na estrutura.
Aconselha-se a começar pela 2ª parte (o desenvolvimento), dado que já se possui o inventário das ideias que se organizam logicamente, e se agrupam por afinidades. Depois estabelecem-se as linhas de força entre elas e marcam-se as oposições.
Um texto desta natureza deve ter em conta, com a maior acuidade, as seguintes 
 
QUALIDADES:
  • pertinência;
  • sequencialização;
  • adequação;
  • coerência;
  • planificação;
  • coesão.
De uma forma mais simples, deve haver dinamismo, progressão e articulação das ideias entre si. 
 
REDACÇÃO
  • elaboração da introdução - ler primeiro, com atenção, o desenvolvimento. A partir dele, elaborar a introdução, que deve ser precisa e reveladora, uma vez que indicará o assunto, anunciará o plano que se vai seguir, despertará a curiosidade do leitor ou ouvinte, e nele provocará a vontade de ler ou ouvir. Pode conter um ou dois parágrafos.
  • Normas para a elaboração do desenvolvimento:
    • as frases devem ser completas;
    • a cada ideia completa corresponde um parágrafo;
    • a articulação das frases deve estar de acordo com a lógica do pensamento (é preciso usar a subordinação);
    • não deve ser esquecido o papel dos articuladores do discurso. Apresentamos alguns:

para explicitar: isto é, ou melhor, neste caso, sendo assim, por vezes, aliás,...; 
para provar: com efeito, sem dúvida, na verdade, efectivamente, deste modo,...;
 
para exemplificar: por exemplo, importa salientar, assim, tome-se como exemplo,...;
 
para reforçar ideias: além disso, como já foi dito, por esta razão,...;
 
para atenuar, restringir ou opor ideias: mas, no entanto, pelo menos, todavia, sobretudo, ressalve-se,...;
 
para concluir: finalmente, em conclusão, consequentemente,...
    • é preciso pontuar correctamente o texto. Há regras. É preciso consultar uma gramática, uma vez que ninguém escreve como fala.;
    • é necessário cuidar:

a apresentação visual e gráfica (caligrafia); 
a construção das frases (nem muito curtas nem muito compridas);
 
a escolha do vocabulário ( rigoroso, preciso e sugestivo);
 
o afastamento das repetições (palavras muito repetidas ou redundantes tornam-se afrontosas no processo da leitura e revelam alguma infantilidade);
 
a ortografia ( as incorrecções revelam falta de cultura geral e pouco conhecimento do vocabulário).
    • elaboração da conclusão- deve ser sintética, persuasiva, convergente e final. Fechar com chave de ouro seria o ideal. "Verba volant, scripta manent", diziam os latinos (As palavras passam, os escritos permanecem). 
  
 
 
 
2. DA LEITURA À ESCRITA 
 
 
 
2.1 O RESUMO / A SÍNTESE / A CONTRACÇÃO 
 
2.1.1 O RESUMO
O resumo é um texto que apresenta as ideias ou factos essenciais desenvolvidos num outro texto, expondo-os de um modo abreviado e respeitando a ordem pela qual surgem no texto original. 
 
FASES DE PREPARAÇÃO DO RESUMO
1ª- Compreensão do texto original
  • Leitura atenta do texto
    • divisão em partes
    • atribuição de um título-resumo a cada parte
    • desmontagem do texto em palavras-chave e articuladores do discurso
    • síntese/organização das ideias
2ª- Selecção e síntese das ideias fundamentais
  • Selecção do essencial de cada parágrafo, recorrendo aos seguintes processos:
    • supressão- suprimir elementos textuais óbvios ou de menor importância para a compreensão do texto
                Exemplo de texto a suprimir: A mãe fazia, naquele dia, 35 anos. 
                Exemplo do resumo: A mãe fazia anos.
    • generalização- substituir hipónimos pelo hiperónimo que os engloba.

(Hipónimos- são palavras de sentido mais específico, relativamente a outras de sentido mais geral.  
Hipónimos são, por exemplo, "rosa", "margarida", "cravo", em relação ao hiperónimo "flores", assim como "cão", "gato", em relação ao hiperónimo "animais")
 
Exemplo de texto a resumir: O filho ofereceu-lhe um ramo de cravos, rosas e gipsofila.
 
Exemplo do resumo: O filho ofereceu-lhe um ramo de flores.
    • integração / construção - incluir uma sequência de ideias ou de acções numa ideia ou acção mais geral (já presente no texto a resumir ou encontrada pelo leitor).

Exemplo de texto a resumir: Depois, pegou na carteira, saiu e foi comprar um bolo. O pai ficou a colocar os pratos, os copos e os talheres sobre a mesa. 
Exemplo do resumo: Depois  foi comprar um bolo, enquanto o pai ficou a pôr a mesa.
3ª Construção do novo texto (resumo) 
 
  • redacção em linguagem clara e precisa do resumo, atendendo a:
    • ordem pela qual as ideias ou factos são apresentados no texto original
    • transformação do discurso directo em indirecto
    • articulação de parágrafos e frases, recorrendo a palavras ou expressões que indiquem o tempo, o espaço, o modo, a causa, a consequência (advérbios , conjunções, locuções adverbiais ou conjuncionais)
    • nº de palavras ou de linhas proposto, ou o limite de metade ou um terço do texto original, caso não haja imposição prévia.
DEFEITOS A EVITAR NA ELABORAÇÃO DO RESUMO
  • imitação do texto de partida: o resumo pode usar o mesmo vocabulário (evitar a busca abusiva de sinónimos) mas não permite o uso de expressões ou de frases inteiras, isto é, citações;
  • intromissões pessoais: comentários ou deturpações;
  • destruição do texto: ausência de ligações lógicas entre as frases ou os parágrafos;
  • desproporção, tanto parcial, conservando um exemplo ou uma ideia secundária em detrimento de uma ideia principal, como geral, atribuindo demasiada importância a uma parte do texto em detrimento das outras.
EXEMPLO 
 
TEXTO A RESUMIR
"Um presente muito especial"
João aguardava impacientemente que chegasse  o seu  aniversário, no início do mês de Agosto. Contava os dias, as horas e os minutos, pois sabia que ganharia um jogo electrónico, pelo qual esperava com tanta ansiedade. 
O tempo passou lentamente, mas finalmente chegou o dia tão esperado. Ao acordar, olhou para o lado e junto à sua cama estava o brinquedo dos seus sonhos.
 
De súbito saltou da cama, deu pulos de alegria e correu para chamar o irmão e mostrar-lhe o seu presente. Os seus olhos brilhavam de satisfação quando, juntamente com o irmãozinho, começou a brincar.
 
Durante toda a tarde não saíram de perto do novo brinquedo. Foi só quando já estava a escurecer que se lembraram de convidar um amigo do João, que morava no mesmo prédio, para brincar com eles.
 
Assim que telefonou para o amigo, ele correu para o apartamento e os três brincaram até a hora do jantar.
 
 
 
Para resumir um texto desta natureza deve-se mencionar os elementos essenciais a partir dos quais a composição foi elaborada, ou seja, as personagens, o local, o tempo e factos principais da acção:
Personagens: João, o irmão e o amigo 
Local: a casa de João
 
Tempo: início do mês de Agosto
 
Factos principais:
  • João recebe um jogo electrónico pelo aniversário
  • Ele e o irmão brincam durante toda a tarde
  • Lembram-se de que um amigo que mora no mesmo prédio gostaria de brincar com eles
  • João telefona ao amigo
  • O amigo chega
  • Os 3 brincam até à hora do jantar.
RESUMO DO TEXTO
João aguardava ansiosamente pelo dia do seu aniversário, no início do mês de Agosto, pois ganharia um jogo electrónico. Ao acordar, nesse dia, encontrou o presente. Mostrou-o ao irmão, com quem brincou  durante toda a tarde. Lembrou-se de telefonar a um amigo que morava no mesmo prédio, chamando-o para brincar também. Os 3 divertiram-se muito com o jogo até à hora do jantar. 
 
 
Não esquecer que não se devem copiar trechos do texto de modo a construir o resumo. Ele deve nascer da compreensão do texto e reunir somente as ideias principais nele contidas.
Repare agora no seguinte 
 
EXEMPLO 
 
 
TEXTO A RESUMIR
- Fuja, fidalgo, que me perco! Fuja, que o mato e me perco! 
Gonçalo Mendes Ramires correu à cancela entalada nos velhos umbrais de granito, pulou por sobre as tábuas mal pregadas, enfiou pela latada que orla o muro, numa carreira furiosa de lebre acossada! Ao fim da vinha, junto aos milheirais, uma figueira brava, densa em folham alastrara dentro de um espigueiro de granito, destelhado e desusado. Nesse esconderijo de rama e de pedra se alapou o fidalgo da Torre, arquejando. O crepúsculo descera sobre os campos, e com ele uma serenidade em que adormeciam frondes e relvas. Afoutado pelo silêncio, pelo sossego, Gonçalo abandonou o serrado abrigo, recomeçou a correr, num correr manso, na ponta das  botas brancas, sobre o chão mole das chuvadas, até ao muro da Mãe d`Água. De novo estacou, esfalfado; e, julgando entrever, longe, à orla do arvoredo, uma mancha clara, algum jornaleiro em mangas de camisa, atirou um berro ansioso:
 
- Ó Ricardo! Ó Manuel! Eh lá, alguém! Vai aí alguém?...
 
A mancha, indecisa, fundira na indecisa folhagem.
                                                         Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires

RESUMO DO TEXTO
Fugindo a uma ameaça (de José Casco dos Bravais, por não ter cumprido a sua palavra quanto a um contrato de arrendamento de terras), Gonçalo salta uma cancela, corre ao longo de uma vinha, esconde-se num espigueiro, a descansar, e faz nova correria, gritando pelos moços da lavoura, que julga entrever ao longe no arvoredo da sua quinta. 
 
EXERCÍCIOS
1- Resuma o seguinte texto, a partir dos tópicos que lhe são fornecidos. 
 
TEXTO A RESUMIR
"Processo educacional e seus objectivos" 
Quando se analisa o processo educacional e se questionam os seus principais objectivos, não podemos deixar de observar a existência de dois planos diferenciados: o aspecto individual, relacionado ao comportamento do aluno; e o profissional, voltado para o despertar das suas potencialidades.
 
Na escola, a criança tem a oportunidade de participar de um pequeno grupo social mais complexo que o grupo familiar. Desde cedo, é função do educador tentar mostrar, por palavras e atitudes, a importância de certos fundamentos básicos da convivência social: o comportamento ético em relação aos colegas e professores, a preservação do ambiente, o respeito pelos regulamentos e também a consciencialização dos seus direitos como estudantes.
 
Além disso, parece-nos essencial que, uma vez observada determinada aptidão para certas actividades, o aluno seja incentivado a desenvolvê-las progressivamente. Estimular a curiosidade científica, a expressão escrita e oral, levar o aluno a pesquisar assuntos do seu interesse, entre outros, dar-lhe-ão a possibilidade de escolher uma profissão através da qual se realize.
 
Dessa forma, a escola estaria prestando uma colaboração indispensável para formar cidadãos preparados para conviver harmoniosamente com a comunidade e dela participar de modo efectivo, no desempenho da sua função profissional.
 
 
TÓPICOS PARA A ELABORAÇÃO DO RESUMO
  • Ideia central (tese) - no processo educativo deveriam existir dois objectivos básicos:
    • estimular um comportamento ético
    • despertar o estudante para as suas aptidões
  • Argumento 1- é função primordial da escola tentar consciencializar o indivíduo dos limites do seu espaço de actuação no grupo social, de modo a torná-lo um ser dotado de sociabilidade e ética
  • Argumento 2- Pelo estudo das diversas disciplinas, o aluno entra em contacto com diferentes áreas de actividade. Isso possibilita que ele perceba as suas aptidões.
2- Resuma um artigo de jornal ou revista cujo tema seja do seu interesse. 
 
 
  
2.1.2 A SÍNTESE
A Síntese é um exercício rigoroso e delicado, incompatível com a improvisação e que apela à agilidade de espírito para distinguir o essencial de um  pensamento e reconstruí-lo fielmente. 
Há quem chame à síntese resumo crítico e com alguma razão, já que ela exige uma condensação de texto que dê conta das ideias do autor e da sua intenção.
 
É, por isso, menos vincadamente impessoal do que o resumo.
 
Uma síntese não pode ser confundida com uma ficha, em forma de catálogo de ideias e num estilo telegráfico. Constitui, antes, um género de texto elaborado, de dimensão reduzida, mas redigido de forma simples, clara e consistente.
 
 
FASES DE ELABORAÇÃO DE UMA SÍNTESE
1- A compreensão do texto
  • leitura activa do texto:
    • destaque das palavras principais e das ideias a elas associadas, das articulações lógicas e dos exemplos
2- Plano ou reagrupamento das ideias
  • apresentação - identifica o texto, o tema tratado, o nome do autor e, eventualmente, a tese
  • ilustração - expõe os factos respeitantes ao tema; noutros casos, historia o problema;
  • causas - diagnostica o estado da questão, indo até às suas origens
  • efeitos - reúne as consequências
  • remédios - indica as soluções apresentadas pelos autores para alterar os efeitos ou resolver os problemas
  • conclusão - apresenta as considerações finais dos textos
3- A redacção
Para além das indicações comuns à redacção do resumo, conviria acrescentar algumas, próprias da síntese.
a) As posições de cada autor são apresentadas no estilo indirecto e, quando numeradas, convém manter a ordem por que aparecem no texto de origem;
b) Há que garantir fidelidade aos textos, evitando, ao tratar-se de vários textos, a aproximação tendenciosa, a simetria abusiva, as oposições forçadas e as divergências exageradas. Respeitemos o pensamento de cada autor;
c) A concisão é muito importante, não ultrapassando o número de palavras pedido. Eliminemos o que não é pertinente, embora seja interessante e até original. O que é acessório, próprio de uma época ou visão, não deve ser retido;
d) A clareza, a precisão e a elegância são aqui rainhas. Tenhamos cuidado com as frases demasiado longas e pouco claras.
EXEMPLO
Observe o exemplo, de acordo com os itens abaixo desenvolvidos. 
 
1- Texto base - 404 palavras 
2- Sublinhar, destacando as palavras e expressões principais, segundo uma leitura individual.
 
3- Pequenas frases, à margem do texto, veiculando o material da análise.
 
4- Síntese.
"O conflito"
Se o conflito for a expressão da individualidade do grupo, não restam dúvidas de que nem o sector têxtil nem o sector agrícola se reconhecem nas actuais tendências da evolução da economia portuguesa. Para eles, a adesão à Comunidade está a traduzir-se no já esperado aumento de dores de cabeça. 
As soluções não são fáceis. Pegando na frieza da descrição dos próprios empresários, metade das empresas têxteis devem fechar as portas o mais rápido possível, para não inviabilizarem a salvação das restantes e mesmo estas não dispõem de meios para suportar a sua quota-parte no plano de modernização do sector.
 
A situação da agricultura não é mais brilhante e não resistirá às novas medidas comunitárias. A agricultura portuguesa não produz de mais, mas sim de menos. Em vez de excedentes, importamos muito do que comemos. Pratica preços elevados porque carece de modernização e de produtividade. Os seus problemas só se reconhecem na "pré-História" da agricultura comunitária. Se lhe reduzem os preços e as áreas de produção, acabam com ela.
 
À beira das eleições, o Governo desejaria tudo menos o estalar destes conflitos. Mas de certa forma merece-os pela forma pouco séria com que recebeu algumas sugestões num passado recente. O engenheiro João Cravinho teria razões para dizer a este respeito "cá se fazem, cá se pagam".
 
Se a corrente liberal tivesse maior tradição em Portugal, erguer-se-iam muitas vozes a aconselhar o Estado a deixar funcionar o mercado. As boas empresas seriam salvas, as restantes iriam ao fundo. Faríamos aquilo que soubéssemos fazer melhor que os outros e a médio prazo todos lucraríamos. Mas é certo e sabido que se houvesse algum partidário desta corrente no partido do Governo que se atrevesse a abrir a boca, iria parar ao último lugar das listas para deputados pela emigração.
 
Mas porque os interesses eleitorais o impõem e porque, de facto, se deixarem o mercado funcionar livremente, se criarão situações sociais muito difíceis, é possível que o Governo se empenhe em conseguir um tratamento favorável para a agricultura portuguesa dentro da Comunidade e que se socorra, mais uma vez, da "herança socialista" das empresas públicas, para facilitar os créditos, pagamentos atrasados de dívidas à EDP e à Segurança Social e faça o Estado assumir parte das dívidas das empresas têxteis. Que o faça, no entanto, apenas para as que têm futuro, caso contrário, daqui a pouco tempo, voltamos ao mesmo.
                                                     Francisco Melro, Suplemento de Economia, Público, 22-7-91

Frases à margem do texto:
1º parágrafo - Incertezas da agricultura e dos têxteis na adesão comunitária 
2º parágrafo- Necessidade de eliminar metade das empresas e apoiar as outras
 
3º e 4º parágrafos- Dificuldades governativas por alguma desatenção
 
5º parágrafo- Solução ideal, mas difícil: a liberdade concorrencial
 
6º parágrafo- Solução provável: intervenção estatal com apoio comunitário
 
                    Oxalá essa intervenção seja esclarecida
SÍNTESE
A agricultura portuguesa e o sector têxtil estão a passar um mau momento: a adesão comunitária impõe a sua adaptação que passa pelo funcionamento do mercado e este leva, segundo o autor, a encerrar metade delas e a apoiar as restantes. 
Estas medidas serão lentas, devido aos problemas governativos e sociais delas decorrentes: vivemos em período eleitoral e há fortes apoios comunitários capazes de adiar a solução natural - a liberdade concorencial.
 
Oxalá as intervenções se verifiquem apenas nas empresas viáveis.
(80 palavras)


 
 
 
 
 
2.1.3 A CONTRACÇÃO
A contracção de texto baseia-se no facto de nem todas as palavras, ideias ou unidades de significação de um texto terem igual importância; daí que seja possível miniaturizá-lo, despindo-o de todos os elementos redundantes, sem com isto alterar a ordem das ideias que deve ser obrigatoriamente respeitada. 
 
O RESUMO / A SÍNTESE / A CONTRACÇÃO
Os três tipos de textos são passíveis de causar dificuldades na sua distinção. 
Nos três casos, o trabalho prévio de compreensão do texto é comum:
 
 
  • Durante a leitura:
    • dividir o texto em partes ou momentos;
    • atribuir um título a cada parte;
    • sublinhar as palavras-chave a destacar;
    • assinalar os conectores ou articuladores do discurso mais importantes;
    • organizar as ideias, descobrindo a introdução, o desenvolvimento e a conclusão;
    • registar as indicações fornecidas pelo título.
            Outras semelhanças:
    • trata-se sempre de um texto novo;
    • deve obedecer ao número de palavras indicado, se não estiver presente, nunca pode ultrapassar 1/3 do texto-base;
    • não permite o uso de citações;
    • tem de ter as qualidades de fidelidade e neutralidade na reconstrução das ideias;
    • apresenta uma correcção formal, sintáctica e ortográfica.
Diferenças:
  • Resumo:
    • a linguagem é informativa e objectiva (corrente)
  • Síntese:
    • a linguagem é apreciativa (destaque das intenções do autor)
    • é mais dirigida ao leitor, daí a apresentação dos textos na 3ª pessoa com a indicação do nome dos autores;
    • pode referir-se a um ou vários textos;
    • permite a alteração da ordem e da organização das ideias;
    • tratando-se de vários textos, o acento é colocado na sua confrontação e não na restituição exaustiva das ideias.

  • Contracção:
    • a linguagem é muito próxima da do texto-base.
EXEMPLO
Texto-base (sublinhadas as palavras-chave e assinalados os articuladores de discurso mais importantes)
"A influência de Paris prolongava-se inevitavelmente na vida artística nacional, como lugar onde se recebia mais inspiração do que lições, pois, desde o romantismo, a aprendizagem fora secundária e sobretudo aproximativa, em desfasamento cronológico. Agora, com a individualização crescente das relações, não se tratava de aprender uma "escola", mas de entender um ritmo cultural - e foi pior. Viana jurou pelo cubismo, em 25, ao regressar de uma viagem parisiense - mas que podia ele perceber da dinâmica do cubismo? E os três ou quatro outros que regressavam de lá, por essa mesma altura, pintores ou escultores, bastou-lhes o ar da "pátria entrevada", que dez anos atrás ainda acicatara Amadeo, para os reduzir a uma prudência formal".
                                         José Augusto França, A Arte em Portugal no século XX

Contracção do texto-base:
A influência de Paris prolongava-se (...) na (arte) nacional, como (...) inspiração (...), desde o romantismo, (...) em desfasamento cronológico. (...) com a individualização crescente das relações (...) foi pior. Viana jurou pelo cubismo, em 25, msas (sem o assimilar devidamente). E (a) os outros (regressados de Paris) (...) bastou-lhes o art da "pátria entrevada" (...) para os reduzir a uma prudência formal. 
 
CONTRACÇÃO
A influência de Paris chegava à arte nacional, sobretudo como inspiração, desde o romantismo, e com algum atraso. Com a chegada do cubismo foi pior. Viana a ele aderiu, em 25, mas sem o assimilar devidamente e aos outros regressados de Paris bastou a hostilidade do público às inovações formais para os inibir. 
 
RESUMO
Os pintores portugueses imitavam a arte parisiense, desde o romantismo, sem uma aprendizagem efectiva. Com o cubismo foi pior. Os regressados de Paris, ou não o entenderam bem , ou inibiram-se com a reacção negativa do público às inovações formais. 
 
SÍNTESE
O texto de Augusto França aborda a forma como os pintores portugueses têm imitado, desde o romantismo, e com atraso, a arte parisiense, sem apreendê-la. Situando-se no período cubista, o autor alude à inibição dos regressados de Paris diante da hostilidade do público e à incompreensão da dinâmica cubista por parte de Viana. 
 
EXERCÍCIOS
1- Elabore o resumo, a síntese e a contracção do seguinte texto.
"Coração feliz"
Uma leve tontura, uma forte dor de cabeça, a impressão de ouvir zumbidos e o diagnóstico caseiro não tarda: "Estou com a tensão alta". 
O pragmático cidadão português é assim. Sobra-lhe em experiência diária ou em conversas de vizinhança o que lhe falta em conhecimentos clínicos...
 
A verdade - garantem os médicos - é que ninguém consegue saber a sua pressão arterial sem a medir. Tal como é falso que o colesterol elevado seja uma doença com cura ou que o peixe gordo e o azeite façam mal ao coração.
 
Os exemplos não foram escolhidos ao acaso. Todos eles integram a lista de mitos identificada num inquérito realizado pela Matris, com o objectivo de "avaliar o nível de conhecimento de portugueses relativamente aos aspectos centrais que caracterizam os comportamentos de risco face às doenças e complicações de foro cardiovascular".
 
O estudo foi encomendado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia em conjunto com a Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, no âmbito do projecto "Coração Feliz". Em matéria de más notícias não ficou por aqui.
 
Mais de metade dos inquiridos acredita também que a hipertensão arterial é uma doença com cura, assim como é ideia corrente que fumar sem "engolir" o fumo é menos prejudicial que fumar inalando-o. Isto a juntar ao facto de só 18% da população ouvida associar o tabagismo a eventuais doenças do coração, uma vez que a grande maioria (84%) apenas o relacionam com o cancro.
 
Erros e mais erros, denunciaram Manuel Carrageta e Amílcar Aleixo, presidente e representante, respectivamente, da FPC e da APMCG. Confusões que em termos de saúde pública se pagam caro, "sobretudo" - salienta Amílcar Aleixo - " se tivermos presente que em Portugal (e ao contrário do que se passa na generalidade dos outros países) a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares continua a subir".
       Mafalda Ganhão, in Expresso, 19-10-96
  
 (índice) 



 
 
 
3. TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO ORAL 
 
3.1 GUIÃO DE ENTREVISTA
Uma entrevista, como o nome indica, permite apenas entrever uma personalidade. A sua missão é dizer ao leitor quem é e como é tal pessoa - transmitir um certo retrato de um indivíduo. O modo de colocar as questões condiciona a sinceridade e o interesse das respostas. Convém, assim, evitar questões que comprometam demasiado directamente o interlocutor.
Antes de realizar qualquer entrevista, é necessário seleccionar:
  • o tema;
  • os objectivos da entrevista;
  • a pessoa a entrevistar.
FASES DE ELABORAÇÃO DA ENTREVISTA
1- Os preparativos
  • formação da equipa (de 3 a 5 membros)
A entrevista pode ser preparada e realizada por uma só pessoa; no entanto, se se trabalhar em equipa, será com certeza mais elaborada, abarcará mais aspectos e far-se-á com maior espírito crítico;
  • escolha do tema - é necessário precisar muito bem o tema sobre o qual desejas obter informações;
  • escolha da pessoa (ou pessoas) a entrevistar - de acordo com o tema, ou porque foi protagonista de algo que nos interessa conhecer;
  • procura de informação (documentação) sobre o tema ou a pessoa, em livros, dicionários, enciclopédias, etc.
Isto permitir-te-á: 
 
    • não perder tempo com perguntas cujas respostas podes obter por ti próprio;
    • fazer perguntas inteligentes cujas respostas não tenhas encontrado em nenhum livro.
2- O questionário
Deverás anotar as perguntas, procurando que elas sejam abertas, isto é, que evitem a resposta "sim" ou "não". Por exemplo:
  • A pergunta "Este departamento funciona bem?" não é boa, porque, provavelmente, a resposta será "sim".
  • A pergunta "Pode explicar como funciona o seu departamento?" está bem formulada.
3- O acto de entrevistar 
 
  • situar o entrevistado, mediante uma breve introdução:
    • Quem é: nome, idade, sexo, onde vive,...
    • A sua actividade: ofício, ocupação,...
    • dados curiosos ou de interesse, anedotas significativas.
  • as perguntas (que devem ser):
    • claras e precisas;
    • directas;
    • abertas;
    • relacionadas: evitar "saltitar" de um assunto para outro;
    • respeitadoras: nunca perguntas muito pessoais (íntimas);
    • ordenadas: devem apresentar-se pela ordem em que foram preparadas.
Admitem-se novas perguntas quando a resposta exige alguma clarificação ou aprofundamento. 
 
  • as respostas
Deverão ser registadas exactamente como o entrevistado respondeu. Se as puderes gravar, será mais fácil.
4- A redacção
Depois da entrevista transcrita, poderás fazer alguma modificação, respeitando sempre as respostas: modificar para aclarar ou tornar algo mais compreensível; suprimir repetições desnecessárias,... 
Costuma redigir-se um parágrafo final (despedida, síntese, agradecimentos).
 
É conveniente que mostres ao entrevistado a redacção definitiva para que ele autorize a publicação e para que, se for necessário, corrija alguma resposta que, no seu entender, não reflicta bem o que ele pretendia dizer. Assim poderás evitar possíveis reclamações.
 
 
EXEMPLO
"Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães, Uma Aventura de Sucesso"
Começaram por escrever para os alunos que não liam. Mas os livros "Uma aventura" chegaram muito mais longe. A fórmula não é nova, mas o segredo parece estar no facto de tudo se passar entre nós, com crianças portuguesas.
Pergunta: Como é que tudo começou?
A.M.M.: Em 1982, éramos professoras de História e Português na mesma escola e começámos a preparar as aulas em conjunto. A certa altura decidimos escrever textos para os alunos com mais dificuldades.
I.A: Procurámos escrever histórias com linguagem simplificada e, especialmente, que transmitíssem a informação que queríamos fazer-lhes chegar, de forma a ir ao encontro dos seus interesses: com acção e personagens da idade do leitor.
A.M.M.: Eram histórias pequenas e apresentávamo-las aos alunos assinadas com outro nome. 
Por brincadeira e também porque queríamos que eles as julgassem objectivamente, sem terem medo de dizer mal porque escritas pelas professoras. Mas, para nossa própria surpresa, elas reagiram muito bem.
I.A.: Quando demos por isso estavam a ser utilizadas por colegas nossas e uma das histórias foi mesmo usada numa prova de exame do Ministério.
Despedimo-nos das autoras, deixando-as entregues ao seu novo projecto uma "História de Descobrimentos", com piratas e corsários.
(Adaptação da entrevista de Isabel Stilwell e Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães , in Marie Claire, Setembro de 90) 
 
 
 
 
EXERCÍCIO
1- Delimita as três partes (apresentação, corpo da entrevista e conclusão) presentes na entrevista que serve de exemplo.
2- Já ouviste cerrtamente falar de Carlos Tê, o autor de muitas das letras divulgadas por Rui Veloso nos seus êxitos. 
Formula perguntas para estas respostas do poeta sobre "Porto Covo".
a) "Nenhum motivo especial inspirou o poema. Este ficou a dever-se a uma passagem casual, mesmo acidental, por Porto Covo, em 1984, numa altura em que, estando de férias e a caminho do Algarve, calhou de passar por lá e parar." 
b) " Nem conhecia Porto Covo, nem sequer tinha ouvido falar desse lugar."
 
c) "Somente dois anos mais tarde quando se preparava a gravação de um disco, me veio à cabeça fazer um pequeno texto com esse tema. Mas estava muito longe de supor que ele viria a alcançar o êxito que obteve de facto. O resultado foi uma surpresa, tanto para mim como para o Rui."
 
d) "O texto de Porto Covo ocorreu-me natural e espontaneamente, foi um acto acidental, fortuito, e nem sequer foi muito elaborado".
        Jornal de Notícias, Magazine, nº7, 12-7-92
  
 (índice) 


 
 
 
  
3.2 GUIÃO DE DEBATE
Um debate é um diálogo ordenado e metódico, dirigido por um moderador, entre várias pessoas que mantêm pontos de vista diferentes sobre um tema fixado com antecedência. 
Para que esse debate seja possível, é necessário que todos os participantes estudem antecipadamente o tema a debater. Depois, e em função das posições antagónicas, organizam-se dois grupos que vão defender as suas opiniões. Deve-se então seleccionar um moderador, dois ou três observadores (que não tomarão posição quanto ao tema) e dois secretários, um de cada grupo.
O debate é constituído pelas seguintes partes:
  • apresentação- o moderador apresenta os participantes e fixa o tema central;
  • exposição inicial - cada participante expõe muito brevemente a sua opinião sobre o tema;
  • discussão - os participantes exprimem ordenadamente os seus argumentos. Os participantes no debate devem respeitar a ordem de intervenção fixada pelo moderador. Nenhum participante deve interromper quem está a falar nem ultrapassar o seu tempo;
  • conclusão - cada participante sintetiza a conclusão a que chegou durante o debate;
  • despedida - o moderador encerra o debate destacando o que de mais importante se disse e expondo as conclusões a que se chegou.
O papel do moderador consistirá em:
  • clarificar o âmbito da discussão;
  • abrir a discussão;
  • assegurar a circulação das ideias;
  • reformular e relançar as opiniões expressas, mantendo-se imparcial e não respondendo directamente a perguntas da assembleia;
  • tentar dar a palavra a todos;
  • controlar a agressividade e evitar o ataque pessoal;
  • apresentar as conclusões.
Será necessário escolher alguns observadores que terão a cargo as tarefas de registo:
  • do tempo de intervenção de cada aluno;
  • da frequência das intervenções;
  • dos principais argumentos apresentados.
Aos dois secretários (um de cada grupo) competirá fazer o relato do decurso do debate, depois de consultadas as fichas preenchidas pelos observadores. 
 
ARGUMENTAR NUM DEBATE
Quando participas num debate, tens de fixar a tua posição a favor ou contra um ponto de vista. Para isso, tens de saber argumentar. 
Argumentar é expor as razões em que se fundamenta uma opinião.
 
 
COMO SE DEVE ARGUMENTAR
  • A linguagem de uma argumentação deve ser muito clara e ordenada;
  • Antes de argumentar há que analisar a ideia que se defende, para destacar os aspectos positivos e contestar os negativos;
  • As razões que sustentam uma opinião não devem ficar "no ar". É importante reforçar as razões apresentadas com dados concretos, com exemplos e inclusivamente com afirmações de algum entendido no assunto. Há que organizar as ideias de modo a que tenham ligação entre si. Para dar razões é preciso exprimir causa e consequência. Por isso é bom que conheças as:
    • expressões que exprimem causa: porque, visto que, por causa de,...
    • expressões que exprimem consequência: portanto, tanto...que, tanto assim que, este facto mostra que...
  
 (índice) 



 
 
 
4. FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA 
 
4.1 PARTICÍPIOS DUPLOS
ESPECIFICAÇÃO: Em português há muitos verbos com duas formas de particípios: uma regular (usada com o verbo auxiliar "ter") e outra irregular (usada na voz passiva e com o verbo "estar"). 
 
ANÁLISE DA SITUAÇÃO LINGUÍSTICA: 
 
 
Exemplo: O sr. Lucas já tinha juntado os elementos necessários.
 
               Agora elas estão juntas na mesma firma.
               Se ele não pagar a renda até ao dia 8... 
               As contas do gás e da água são pagas através do banco.
Uso  da forma regular- Tenho gastado muito dinheiro; tenho inquietado muita gente. 
Uso da forma irregular- O contrato foi aceite; a fortuna está gasta; o teu irmão anda descalço.
Eis agora alguns exemplos desse tipos desses verbos, seguidos 1º pela forma regular e depois pela forma irregular.
Aceitar - aceitado, aceite 
Acender- acendido, aceso
 
Assentar- assentado, assente
 
Cativar - cativado, cativo
 
Cegar- cegado, cego
 
Completar- completado, completo
 
Corrigir- corrigido, correcto
 
Descalçar- descalçado, descalço
 
Dispersar- dispersado, disperso
 
Empregar- empregado, empregue
 
Entregar- entregado, entregue
 
Enxugar- enxugado, enxuto
 
Expulsar- expulsado, expulso
 
Fartar- fartado, farto
 
Ganhar- ganhado, ganho
 
Gastar- gastado, gasto
 
Imprimir- imprimido, impresso
 
Inquietar- inquietado, inquieto
 
Juntar- juntado, junto
 
 
 
 
 
EXERCÍCIOS
Completa as frases da 2ª linha com as formas irregulares dos particípios dos verbos da primeira.
1- Os calções de banho ainda não secaram. 
    - A toalha está ___________
2- Quando entregarmos os documentos... 
    - As encomendas são _____________ ao domicílio.
3- Oxalá a polícia prenda o criminoso! 
    - O ladrão foi _____________ em flagrante.
4- O lugar tinha vagado em Outubro. 
    - Agora o rés-do-chão esquerdo está ____________
5- Onde imprimiram estes convites? 
    - A 1ª edição fora ___________ em 1572.
6- O sr. Morgado completará 80 anos no domingo. 
    - Talvez as fichas de identificação estejam _________
7- Se os girassóis murcharem... 
    - As papoilas estão ____________
8- Elegeram-no para vice-presidente da Assembleia. 
    - Eles tinham sido ___________ por maioria simples.
9- Eles têm aceitado todas as reclamações. 
    - Todas as nossas condições foram ___________
10- Suspendemos o fornecimento de materiais. 
    - A legislação estava ______________ desde Janeiro.
 
 
 
 
 
 
 
Seleccione 5 verbos da lista fornecida e construa frases em que utilize as duas formas indicadas para cada um dos verbos.
 
 
 


 
  
4.2 ARTICULADORES DE DISCURSO
ESPECIFICAÇÃO: Articuladores de discurso são palavras ou expressões (que podem ser conjunções, locuções, advérbios,...) que ajudam a explicitar e articular as ideias.
Os articuladores são usados com várias funções: 
 
  • para ilustrar ou exemplificar: assim, por exemplo, ressalte-se, importa salientar,...
  • para provar: com efeito, sem dúvida, efectivamente, deste modo, ora,...
  • para explicitar: isto é, aliás, é o caso de, neste caso, sendo assim, veja-se, assim,...
  • para reforçar a ideia: além de, ainda, também, por esta razão, de acordo com, por isso, como já foi dito, na grande maioria,...
  • para atenuar ou restringir: pelo menos, neste caso, ressalve-se, no entanto, todavia,...
  • para concluir: em conclusão, finalmente, por todas estas razões, em consequência,...
  
ANÁLISE DA SITUAÇÃO LINGUÍSTICA
Exemplos: 
1- Todos os dias vou à praia. Ontem, por exemplo, estive lá até às 6 da tarde.
 
2- Gosto de viver ao ar livre. Por isso, não tenho casa.
Como facilmente reparas, no primeiro caso, a função do articulador é de exemplificar o que se disse anteriormente. No 2º caso, o  articulador serve para reforçar a ideia também expressa anteriormente. 
 
EXERCÍCIOS
1- No texto seguinte estão sublinhados alguns articuladores de discurso. 
    Identifica a função que cada um desempenha.
"Era uma vez um jovem que gostava de caçar. Assim, todos os dias se dirigia à floresta e lá caçava os animais que lhe apareciam pela frente. Todavia, havia uma animal que ele nunca tinha encontrado na floresta: a raposa. Efectivamente, ele nunca tinha ouvido falar em tal animal. 
Certo dia, estando ele a caçar na floresta, apareceu-lhe o tal bicho, isto é, uma raposa. Ele ficou embasbacado, e não conseguiu apanhá-la. A raposa ficou muito contente e fugiu a sete pés.
 
Consequentemente, o jovem ficou furioso, porque acabara de perder a oportunidade de apanhar um animal desconhecido."
2- Agora chegou a tua vez de criar um texto. Inventa uma história e usa, pelo menos, 5 articuladores de discurso diferentes. 

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