sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Texto de exposição ou expositivo
Texto de exposição ou expositivo
1. Definição
Segundo Nascimento & Castro Pinto (2006:136), é próprio de um texto expositivo apresentar uma questão, situação ou problema, de modo a que os destinatários obtenham um conhecimento, tanto quanto possível, completo sobre o que se explana.
Quem expõe quer ser compreendido. Para alcançar este objectivo, tem de usar os meios que, na circunstância concreta, melhor tornem a mensagem eficazmente inteligível e aceitável. (Idem).
Falando sobre o texto expositivo-explicativo, Júnior et ali (S/D), referem que existe determinado tipo de textos, sobretudo os que se destinam a divulgar conhecimentos científicos, que parecem, à primeira vista, extremamente obscuros e de difícil compreensão, devido à utilização de terminologias científicas, instrumento criado não para prejudicar a compreensão, mas para exprimir, com maior precisão, os fenómenos estudados. Para estes textos o objectivo fundamental é a exposição do saber e a sua explicação.
Segundo estes autores o texto expositivo explicativo apresenta a seguinte organização:
2. Organização textual
Para facilitar a sua compreensão, o texto expositivo-explicativo apresenta a seguinte organização retórica (a retórica é a arte de bem falar e bem escrever, um conjunto de regras relativas à eloquência). (op.cit)
a) Momento de questionamento (introdução) – relativa à delimitação do tema, onde se faz referência aos antecedentes e se apresenta o estado da questão. Isso concretiza-se através da denominação, definição ou composição dos termos ou elementos;
b) Momento de resolução (desenvolvimento) – correspondente ao corpo do trabalho. Nele apresentam-se os dados de forma sistemática, interligando-os. O articulado é caracterizado por raciocínio lógico, ou melhor, a demonstração com enunciados que encerram os resultados, sua descrição e caracterização, as transformações e os processos verificados;
c) Momento de conclusão – não necessariamente presente em todos os textos, mas existindo poderá decorrer do questionamento inicial e apresentar-se-á sob a forma de apelo, persuasão ou recomendações a ser observada pelos interessados, modificando a sua atitude inicial.
3. Características discursivas e linguísticas
O texto expositivo-explicativo tem uma textura própria que o distingue das outras formas de discurso. Deste modo, de acordo com Sebastião et ali (1999) este género textual é composto por três tipos de enunciados, a conhecer:
i. Enunciados de exposição – contendo uma sucessão de informações que visam fazer saber. Caracterizam-se pela ausência de marcas gramaticais da primeira e segunda pessoas, cuja intenção é não fazer transparecer a presença do sujeito enunciador, pelo uso do presente e do pretérito perfeito do indicativo e pelo recurso à forma passiva. Sublinhe-se que às vezes pode também ocorrer enunciados descritivo que, por se situarem numa perspectiva histórica, se apresentam no pretérito perfeito simples ou composto, ou no pretérito imperfeito do indicativo.
ii. Enunciados de explicação – que têm como finalidade fazer compreender o saber transmitido. Os que são caracterizados pela recorrência a construções de detalhes, visando facilitar a compreensão do fenómeno, através de comparações e reformulações parafrásticas como (à semelhança de…;quer dizer…; etc.) são também caracterizados pelo uso de asserções afirmativas ou negativas.
iii. Os enunciados que marcam as articulações do discurso ou metadiscursivos ou, ainda, “balizas” – anunciam o que vai ser dito através de títulos, subtítulos, numerações, sublinhados e de mudanças tipográficas; resumem o que se disse. Estes permitem que o enunciador comente o desenrolar dos acontecimentos. Caracterizados pelo uso dos pronomes (sobretudo, o se passivo), por fórmulas de imperativo (observemos…, analisemos…, etc.) pelo uso de deícticos temporais (primeiro…, segundo…, agora…, finalmente…, etc.).
Portanto, o texto expositivo-explicativo por ser um discurso de verdade, o seu objectivo é isento de ataques. A sua objectividade manifesta-se através de formas linguísticas próprias. É emitido por um locutor detentor de um conhecimento e de um domínio sobre o assunto. Quando se põe em causa esta autoridade, entra-se em polémica, perdendo-se, assim, o estatuto de texto de explicação.
Para além dos modos de comunicação já referidos, encontra-se também, neste tipo de texto os seguintes:
a) Emprego da passiva
O texto expositivo-explicativo, geralmente, abstrai o sujeito entanto que membro duma sociedade determinada; neutraliza-se tudo que possa resultar de uma apreciação pessoal, subjectiva.
Assim, a forma passiva é um mecanismo para tornar impessoal o discurso científico; é usado como uma estratégia de objectividade, de afastamento do sujeito enunciados do seu discurso, embora, em alguns textos possamos identificar um nós/eu, estará desprovido do valor individualizante. Por se tratar de um discurso monológico vamos observar a ausência de tu.
b) Nominalizações – processo que consiste na transformação de um sintagma verbal ou adjectival num nome. Permitem condensar o que foi dito, assegurar uma determinada orientação da reflexão.
c) Emprego de um presente com valor genérico
O presente genérico ou estativo faz com que as verdades perdurem, independentemente do momento em que são enunciadas. Este tempo verbal não pode ser oposto a um passado ou a um futuro; é uma forma temporal “zero”
d) Uso de expressões que explicitam os conteúdos veiculados – as expressões explicativas têm um papel importante nos textos expositivos-explicativos, permitindo ao emissor tornar mais clara a sua comunicação e orientar a compreensão do receptor.
e) Articuladores [conectores (conjunções, locuções, preposições)] – são elementos que asseguram as relações entre as diversas partes do texto, quer a nível intrafrásico, interfrásico, quer entre parágrafos.
Estes conectores podem marcar laços de adição (também, igualmente), oposições (mas, ao contrário, …), laços de consecução ou de causalidade (porque, visto que, dado que, …).
Técnicas de construção textual
Coerência e coesão
Para Nascimento & Castro Pinto (2006), os conceitos de coesão (ligação das palavras entre si, segundo as regras ou mecanismos da gramática da língua) e de coerência (ligação lógica das ideias) estão intimamente ligados. Assim, a constituição de um texto, segundo Alves & Moura (2005:346), alicerça-se na coerência (selecção de conceitos ou ideias adequados e compatíveis à sequência do discurso) e na coesão (organização das palavras na/s frase/s de acordo com as regras gramaticais ou formais da estruturação da língua).
A coerência e a coesão possibilitam a conectividade do texto, a sua construção unificada, a interdependência dos seus elementos lógicos e gramaticais. (Idem).
Portanto, há coerência textual ou discursiva (também chamada coerência conceptual) quando o que é transmitido pelo texto corresponde àquilo que os destinatários aceitam como a organização do mundo “normal”; o mundo em que as pessoas realmente vivem, se relacionam e trabalham. Deste modo, há coerência textual quando esse texto apresenta os acontecimentos ou situações na sua ordem lógica, quando as relações entre os estados das coisas ou as características dos objectos estão de acordo com a experiência e as expectativas humanas.
Para garantir a coerência textual existem princípios a seguir.
Alves & Moura (2005:346) apresentam o seguinte quadro de princípios de coerência textual:
P
R
I
N
C
I
P
I
O
S
Recorrência Recursos
Pronominalizações – utilização de um pronome que possibilita a distância, a repetição de um sintagma ou até de uma frase inteira.
Geralmente, o referente antecipa o pronome (anáfora)
Ex.: “Os alunos foram ao campo. Eles divertiram-se muito.”
Às vezes, o pronome antecipa o seu referente (catáfora).
Ex.: “Só tenho a dizer-te isto: tu não és verdadeiro.”
Expressões definitivas – uso de expressões que permitem relembrar um elemento de uma frase, numa outra sequência textual.
Ex.: “A Rita comprou uma casa. As dimensões da casa são…”
Substituições lexicais – substituição de vocábulos.
“Os estudantes fizeram ontem o teste de Gestão. A prova foi dificílima.
Retomas de inferências – relação estabelecida por meio de conteúdos semânticos implícitos.
Ex.: “Estiveste à espera dele? Não, fui com o Tomás.”
Progressão – renovação constante da informação semântica.
Ex.: “Vou ao mercado. À volta passo por sua casa.
Não-contradição – não introdução de elementos semânticos que entrem em contradição com outros conteúdos já apresentados de forma implícita.
Ex.: “Todos os estudantes desta turma têm material didáctico. Mas alguns não estudam.”
Relação – relação obrigatória de todos os factos enunciados com a realidade apresentada no texto.
Ex.: “O edifício pegou fogo. Comunicou-se aos bombeiros. A sua chegada ao local demorou uma hora.”
Por sua vez, a coesão é o modo como os componentes superficiais do texto (palavras e frases) se encontram ligados entre si; o modo como o ouvinte ou leitor realmente ouve ou lê esses elementos. Trata-se pois, de uma relação gramatical ou lexical entre unidades do texto, em que são fundamentais as relações transfrásicas.
As relações de coesão que se situam no interior da frase coincidem, frequentemente, com as relações dos constituintes.
São muito os processos linguísticos formais que servem para ligar as diferentes partes de um texto, como por exemplo:
A concordância – o sujeito da frase determina o género (masculino-feminino) e o número (singular-plural);
A ordem das palavras na frase – na Língua Portuguesa a frase padrão é declarativa com a seguinte estrutura sintáctica: sujeito + verbo + complemento(s), mas, por vezes, pode apresentar omissão de alguns elementos ou alteração da sua ordem lógica, por interesse ou intencionalidade (implícita ou explícita) do locutor.
Os conectores ou articuladores discursivos são também palavras ou expressões que sequencializam as ideias e estabelecem relações entre elas. Algumas conjunções e locuções coordenativas e subordinativas são utilizadas como articuladores do discurso. A sua utilização facilita a compreensão global do texto, por isso, a utilização incorrecta desses articuladores do discurso poderá ter como consequência a produção de um discurso ilógico, absurdo e confuso. Devem, pois, seleccionar-se correctamente, de acordo com a intencionalidade do texto que se constrói, visando a coerência, clareza e concisão da mensagem.
Em suma, a coerência tem a ver com as relações semânticas de conteúdo e a coesão se reporta aos elementos que fazem a adesão dos elementos entre si. Esses elementos constroem a textura da sequência: fazem da sequência um texto.
Bibliografia
ALVES, Filomena M. & MOURA, Graça B. Página Seguinte: Português 11º Ano; Lisboa, Texto Editores, 2005, pp. 346-448.
MATEUS, Maria H. M. & et ali. Gramática da Língua Portuguesa; Lisboa, 6ª ed., Editorial Caminho, 2004.
NASCIMENTO, Zacarias & CASTRO PINTO, José Manuel de. A Dinâmica da Escrita – como escrever com êxito; Lisboa, 5ª ed., Plátano Editora, 2006.
REIS, Carlos & LOPES, Ana Cristina M.. Dicionário de Narratologia: Coimbra, 7ª ed. Almedina, 2002.
SEBASTIAO, Lica et ali. Português 11ª Classe: textos e sugestões de actividades; Maputo, Diname, 1999, pp. 13-18.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário