terça-feira, 15 de novembro de 2011

A selecção das preposições a e em, no PM

Resumo
No presente projecto iremos fazer uma abordagem sobre as preposições a e em, em que, para além de apresentarmos os conceitos, características e valores destas preposições (seu uso e ou abuso pelos alunos visados), procuraremos propor algumas ideias para o melhoramento de tal ocorrência, em particular, e do ensino aprendizagem da Língua Portuguesa nas escolas do ensino secundário geral.
Assim este projecto será composto pelas seguintes partes:
Em primeiro plano, teremos a introdução, onde de forma geral, falaremos daquilo que é o nosso projecto, ou seja, apresentamos nesta fase o tema, a definição do problema, os objectivos (gerais e específicos), o problema, a hipótese, a importância do tema para o melhoramento do ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa e a motivação (justificativa) pela escolha do tema em estudo.
Em segundo lugar, dando continuidade ao nosso projecto, teremos o capítulo I, que corresponde à revisão da literatura, onde faremos uma abordagem que são as diferentes perspectivas dos diferentes autores, por nós consultados para a materialização deste projecto, sobre o tema em estudo.
Serão, ainda neste capítulo, apresentados os conceitos, as características, os valores semânticos e sintácticos das preposições e as classes a que as preposições em estudo pertencem.
Em seguida, termos, no capítulo II, a metodologia de investigação adoptada para este projecto, onde focalizaremos vários aspectos daquilo que são os métodos por nós usados para a concepção deste projecto (e, posteriormente, do trabalho final que daqui resultará).
Seguindo com o projecto, termos a conclusão, na qual apresentaremos as nossas conclusões em relação ao tema, aos problemas encontrados, bem a apresentação de algumas propostas para o melhoramento de tais problemas.
Por fim, teremos a calendarização, os instrumentos de recolha de dados/ investigação (apêndices) e a lista bibliográfica (bibliografia) das obras consultadas no âmbito da elaboração deste projecto.



Introdução
Neste projecto, cujo tema é "A selecção das preposições a e em, no PM", vamos procurar, em traços largos, percorrer alguns dos problemas que se levantam à volta da selecção e uso ou abuso das preposições a e em no PM, reflectir sobre a necessidade do seu ensino nas escolas das particularidades do funcionamento da língua, com especial enfoque à selecção e uso das preposições, em conformidade com o preconizado pelo cânone da Língua Portuguesa, ou seja, mostrar que a selecção e uso das preposições não feito de forma aleatória/ arbitraria, mas que há condições que são necessárias para a opção de uma e não outra preposição.
Procuraremos, ainda neste projecto, recordar mostrar a necessidade do conhecimento explícito da gramática. Pois, a gramática, sempre devia ser tida como fundamental, mas o seu poder não tem vindo a funcionar bem até, e em particular, neste momento.
Como podemos ver, nos programas actuais de língua não aparece a palavra gramática. O nosso objectivo, porém, é perspectivar a gramática como de uso ou gramática pedagógica, concebida para o ensino e aprendizagem da língua. Esta gramática deverá abranger não só os domínios tradicionais/ implícitos, mas também os elementos que completam e objectivam a aula de língua.

1.2. Definição do problema
Todo o problema de gramática nos alunos está directa ou indirectamente ligado a fraca existência de gramáticas escolares adequadas.
O facto de a Língua Portuguesa ser oficial no ensino em Moçambique remete a ideia de que seja bem usada pelos alunos (no que respeita aos seus cânones). Não obstante, há evidências de que apesar desta ser a base do ensino, ainda verificam-se dificuldades no seu uso por alunos e até por professores, no concernente ao uso das preposições a e em (em particular). É a partir deste ponto que nos achamos imperioso abordar o problema da fraca capacidade comunicativa (sem muitos erros) dos alunos.
Desta feita, o nosso problema central é:
• A falta de gramáticas académicas (pedagógicas) apropriadas;
• Qual seria o resultado do ensino e do uso adequado da língua se para além de se privilegiar o estudo/ ensino de textos (estrutura externa) se tratasse concretamente das particularidades da língua, no caso das particularidades do uso das preposições?
• Que vantagens teria a habilidade dos alunos, no concernente ao (multi) uso da língua para o seu aproveitamento na aprendizagem da língua, em particular, no desenvolvimento da sua competência comunicativa, em geral?
Estas questões constituirão o eixo de convergência da nossa pesquisa e ao longo desta procuraremos apresenta o nosso ponto de vista no respeitante aos problemas acima referenciados.

1.3. Hipótese
Parece que os falantes do PM usam a preposição em [+LOC] em com verbos de movimento, em detrimento da preposição a que é uma preposição que exprime/ indica movimento. Sendo que tal parece dever-se, em muitos casos, à falta de conhecimento aprofundado sobre a selecção/ uso das preposições e, em alguns casos, ao hábito que os falantes têm, no concernente ao uso das preposições (generalização no uso das preposições).

1.4. Objectivo geral
Neste projecto temos como objectivos gerais:
• Analisar os reais problemas da fraca capacidade do uso da preposição a, no PM;
• Conhecer as causas que estão na origem de tais problemas e as suas respectivas fontes;
1.5. Objectivo específico
• Identificar os problemas da fraca utilização da preposição a;
• Identificar as suas causas;
• Explicar preferência pelo uso da preposição em;
• Propor soluções para o melhoramento ou invectivação do uso das preposições a e em nos devidos contextos.


1.6. Importância do tema
O tema é de maior importância social, para além de constituir uma contribuição para o ensino da Língua Portuguesa. Irá contribuir para o melhoramento da competência comunicativa, oral e escrita, dos alunos, bem como contribuirá no desenvolvimento das capacidades de análise e de raciocínio do aluno mediante a um conhecimento explícito do modo como se organiza e funciona a Língua Portuguesa, nas suas diferentes particularidades contextuais.

1.7. Motivação
Foi-nos imperiosa a escolha deste tema ao deparámo-nos com certas situações de mau uso da língua, isto é, indivíduos que têm níveis académicos “elevados” e são simultaneamente detentores de graves problemas de comunicação, no concernente ao uso da língua, com particular enfoque para o uso das preposições a e em.
Tivemos a necessidade de chegar mais perto para ver quais são as possíveis origens desses problemas linguísticos para, posteriormente, propormos soluções para a resolução destes.

















PREPOSIÇÕES A E EM, NO PM
Como já dizíamos, anteriormente, o nosso projecto vai gravitar em torno das preposições a e em. Com efeito, antes de começarmos o tratamento destas preposições, julgamos melhor, para um boa abordagem, apresentarmos os conceitos que os autores, por nós consultados, dão a este termo.
Assim, Cunha e Cintra (1999:551) definem preposições como sendo palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro é explicado ou completado pelo segundo.
Ainda no âmbito do tratamento das preposições, Mateus et alli (2003:392) acrescenta à definição acima apresenta o facto de as preposições (e locuções prepositivas) se aproximarem dos advérbios e das conjunções (por não serem flexionadas) e, com efeito, são categorias lexicais porque seleccionam complementos e estão-lhes associados valores semânticos, sendo, em alguns casos marcas de caso e, pelo menos em alguns dos seus valores, sofrem um processo de reanálise, comportando-se como complementadores, como, por exemplo, o que acontece com para quando introduz orações infinitivas.
1. Eu disse para tu ires ao mercado.
A partir dos conceitos apresentados podemos prever o comportamento (características) das preposições. Porém, há que salientarmos que na classe das preposições temos a subclasse das preposições simples (quando expressas por um só vocábulo) e a subclasse das preposições compostas (Cunha e Cintra, 1999:551) ou locuções prepositivas (quando constituídas de dois ou mais vocábulos, sendo um deles uma preposição simples).
Após termos apresentado o conceito de preposição, passaremos a fazer a análise do comportamento desta na frase, ou seja, com as categorias que a elas se juntam.

2.1. Estrutura do sintagma preposicional: posições e valores sintácticos
Como já é do nosso conhecimento, a preposição juntamente com um elemento de uma outra categoria forma a categoria sintagmática SP, na qual ela é o seu núcleo, ou seja, uma preposição ou uma locução prepositiva que tem a propriedade de seleccionar um complemento (Mateus et alli, 2003:392), por isso, não podem ocorrer isoladamente (por serem categorias relacionais), devendo serem seguidas de um SN ou de uma frase (finita ou infinitiva).
2. *está em / está em casa
*vou a / vou à escola
No entanto, há algumas preposições ou locuções prepositivas que podem ocorrer sozinhas, mas deve-se presumir que os seus argumentos sejam nulos.
3. Siga em frente.
4. O Júlio está contra.
O SP, segundo Mateus et all (2003), pode ser complemento do SN, do SA, do SV, bem como desempenhar na frase diferentes funções sintácticas, como é o caso de nome predicativo do sujeito, ser adjunto de vários tipos de categorias, particularmente do SV (não sendo então seleccionado por V).
5. O Rui foi ao mercado. (SP seleccionado por V ir – [SP,SV])
6. O livro de linguística está na estante envidraçada. (SP PRED SU)
Portanto, o carácter de constituinte de SP pode ser comprovado pela possibilidade de ser deslocado ou destacado por determinados processos sintácticos, como a topicalização. O resultado deste teste produz frases gramaticais, aumentando a sua aceitabilidade em contextos contrastivos.
7. Ao mercado, o Rui foi.
8. Na estante envidraçada está o livro de linguística.
2.2. Valores sintáctico-semânticos das preposições a e em
Depois de termos visto os elementos constitutivos do SP, passamos a analisar os valores das preposições a e em, destacando a sua interpretação (importa salientar que neste projecto, estamos preocupados com a analise das preposições no concerne ao movimento ou situação e não analisaremos os outros valores destas).
Assim, temos:
 A: preposição locativa (Meta) que exprime um movimento em direcção a um limite, ou seja, P. de movimento que introduz um [-SN] Meta (Mateus et alli, 2003:399), isto é locativa direccional (Vilela, 1999:337)
9. Vou a Itália com os meus primos.
10. Do Hospital a UP não é distante.
A preposição a pode ser introdutora de um SN Meta no sentido de Beneficiário, seja ele seleccionado por verbos, nomes ou adjectivos.
11. Dei uma pastilha à Lurdes.
12. Aquele livro foi útil à Teresa.
 Em: preposição locativa (situativa) que exprime uma:
a) Superação de um limite de interioridade; alcance de uma situação dentro de um espaço, ou seja, em P. Loc. [- SN] Locativo, implicando movimento (Mateus et alli, 2003:400);
13. A lista de presenças passava de mesa em mesa, permitindo que todos os estudantes marcassem as presenças.
b) Situação ou posição no interior de um determinado espaço (dentro dos limites de), ou seja, em P. Loc. [- SN] Locativo, não implicando movimento (Mateus et alli, 2003:400), isto é, situativo (Vilela, 1999:336).
14. Trazia na pasta todos os cadernos de linguística descritiva dos anos passados.
15. O meu tio vive no Japão com a esposa e os filhos.

2.3. Tipos ou classes das preposições e locuções prepositivas
A partir da apresentação feita no ponto anterior é possível que um dos factores caracterizadores das preposições é o papel que assumem na marcação temática do seu complemento. Outro elemento importante é o que diz respeito à atribuição de caso.
Partindo deste pressuposto é possível distinguir (de acordo com Mateus et alli, 2003) três grandes tipos de preposições e locuções prepositivas:
i. As que maçam tematicamente os eus argumentos juntamente com outros predicadores;
Comecemos por ver o papel das preposições quando ligadas a certos verbos que são inerentemente reposicionados, por exemplo, o verbo de movimento ir a.
O verbo ir exprime um movimento de uma entidade a partir do lugar em que se situa o sujeito enunciador. Desde modo, este verbo pressupõe, ou melhor, tem na sua entrada lexical os papéis temáticos de Meta e de Fonte, respectivamente. Mas enquanto preposição de movimento, a contribui decisivamente para a marcação temática dos complementos que selecciona, por isso, verbo e preposição participam, conjuntamente, na marcação temática dos SN’s.
16. O João vai a [Portugal Meta], hoje.
Observemos agora o caso de em nos verbos de localização:
17. Ele colocou os livros na estante envidraçada.
Este verbo (colocar) é de localização e tem dois argumentos internos que marca tematicamente. Mas a marcação de um dos argumentos como Locativo só é realmente efectiva quando presente a preposição em.
ii. As que são os verdadeiros itens predicativos e por si sós marcam tematicamente os seus próprios argumentos;
Nestes casos, as preposições são por si sós as categorias de natureza predicativa.
18. O Presidente da Republica está em Inhambane.
19. O livro de linguística ficou em cima da mesa.
Estes verbos podem ser seguidos de predicados categorial e semanticamente muito diversificados e um mesmo verbo, por exemplo, estar, pode ser seguido de diferentes preposições. Isso mostra o papel determinante das preposições e locuções prepositivas na interpretação.
iii. As que têm um papel secundário na marcação temática e que são essencialmente marcadoras de caso.
Pelo facto de o português não ser uma língua de sistema casual, muitas preposições é que cumprem o papel similar ao de flexão casual. Quando os SN’s são plenos, a informação casual não é explícita, mas quando são pronomes pessoais é visível, não só a existência de flexão casual mas também a própria variação das formas conforme a natureza das preposições.
20. Dei um livro à Lurdes.
21. Comprei um livro à Lurdes.
Em 20 à Lurdes é a Meta e Beneficiário de dar, em 21, com o verbo comprar, à Lurdes tanto pode ser Meta com Fonte. É a partir das preposições que as informações atribuídas aos SN’s se justificam.




Metodologias de investigação
3.1. Tipo de pesquisa
Adoptaremos para este projecto a pesquisa qualitativa pois esta permitir-nos-á trabalharmos com dados estatísticos. Ainda na mesma usaremos o método experimental pois existirá pelo menos uma variável independente que poderemos manipular, esperando assim podermos ter uma ideia geral do nosso objecto dos nossos objectivos. De salientar que na nossa pesquisa iremos usar a observação molecular, estaremos virados apenas para os aspectos que dizem respeito a gramática.

3.2. Método de abordagem
Neste projecto serviremo-nos do método indutivo.
A preferência por este método para o presente projecto é justificada desejarmos partir pela observância de um determinado número de casos particulares para chegarmos a uma generalização do aqui pretendemos demonstrar.
Este é para nós o melhor caminho para que o nosso trabalho tenha um resultado que esteja a par das nossas aspirações (positivo).

3.3. Método de procedimento
Neste presente projecto usaremos o método comparativo, onde trabalharemos em três escolas secundárias, com 50 alunos de cada uma delas e por fim passaremos a comparação dos resultados obtidos em cada escola, para subsecutivamente passarmos às generalizações.

3.4. Técnicas e instrumentos de investigação
Neste projecto usaremos a observação directa e o questionário que serão dirigidos aos professores e alunos das escolas nas quais faremos a nossa pesquisa (recolha de dados).
Por meio do questionário pretendemos ver até que ponto os alunos são capazes de fazer um bom uso ou abuso das proposições e quais as causas que estão na génese de tais dificuldades.
A observação directa, por sua vez, nos permitirá conhecer e analisar o modo pelo qual os professores transmitem os conteúdos de gramática aos alunos.
Será ainda, por meio desta que nós poderemos avaliar e dar sugestões daquilo que deveria ser o ensino da gramática e qual deverá ser o modelo gramatical adequado para cada nível de escolarização.

3.5. Delimitação do universo
A nossa pequisa será realizada em algumas escolas da Cidade de Maputo, convenientemente seleccionadas tendo em conta a natureza do projecto e dos objectivos preconizados nomeadamente:
• Escola Secundária Josina Machel;
• Escola Secundária de Lhanguene;
• Instituto Comercial de Maputo.
Os inqueridos seleccionados são professores e alunos que nós achamo-los fiéis nas suas respostas, que não teriam a tentação de omissão de certos dados por os acharem indignos para as suas careiras profissional e ou estudantil que poriam em causa a própria instituição de ensino.
Assim sendo, eles estão distribuídos de acordo a tabela de amostragem a baixo apresentada.

3.6. Tabela de amostragem
Categoria dos inquiridos Número dos inquiridos Percentagem relativa
Professores 10 16.7%
Alunos 50 83.3%
Total 60 100%








Conclusão
Com base nos pontos acima vistos, podemos chegar a conclusão de que o ensino da gramática é indispensável para os falantes de uma determinada língua.
Não obstante, muitos programas de ensino e aprendizagem da língua, não têm em conta esta componente tão necessária no processo de ensino e aprendizagem.
Não é adequado aflorar de modo progressivo a gramática no sentido amplo e reenviarem-se os aprendentes e docentes para compêndios de gramática como consulta.
Podemos concluir, ainda, que a selecção da preposição a ou em não é aleatória, mas sim segue determinadas condições, que é missão da escola e do professor de língua transmitir aos alunos.
Assim, a relação que se estabelece entre palavras ligadas por intermédio de preposição pode implicar movimento ou não, isto é, pode exprimir movimento ou uma situação dai resultante.
Tanto o movimento como a situação podem ser considerados em referência ao espaço, ao tempo e à noção (Cunha e Cintra, 1999:553), sendo que na expressão de relações preposicionais com ideia de movimento considerado globalmente importa ter em conta a existência de um ponto limite em referência ao qual o movimento será de aproximação ou de afastamento.
Contudo, embora as preposições apresentem grande variedade de usos, bastante diferenciados no discurso, é possível estabelecer para cada uma delas uma significação fundamental, marcada pela expressão de movimento ou de situação resulatante.









Bibliografia
1. CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo, 15ª edição, Edições João Sá da Costa, Liaboa, 1999.
2. Flumen, Porto, 2006.
3. GOMES, Álvaro. Gramática Pedagógica e Cultural da Língua Portuguesa – 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário, Edições
4. MATEUS, Maria Helena Mira et alli. Gramática da Língua Portuguesa, 3ª edição, Editorial Caminho, Lisboa, 1989.
5. MATEUS, Maria Helena Mira et alli. Gramática da Língua Portuguesa, 6ª edição, Editorial Caminho, Lisboa, 2003.
6. VILELA, Mário. Gramática da Língua Portuguesa, 2ª edição, Livraria Almedina, Coimbra, 1999.

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